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A SUPER-MULHER VAI TE MATAR

Aparentemente eu venho tentando ser a Super-mulher desde que me conheço por gente. Contudo, quanto mais eu tento, mais me cobro, mais me frustro, mais eu falho. Está parecendo cada vez mais impossível corresponder às minhas expectativas desumanas. Reparei que inúmeras outras mulheres lidam diariamente com a mesma questão, então decidi escrever. De repente, relatar e discorrer sobre as minhas próprias mazelas, pode gerar algum tipo de benefício na vida alheia, nem que seja um mero lugar de reconhecimento e identificação.

Não é a primeira vez que esbarro em limites pessoais importantes e que jamais deveriam deixar de ser respeitados. Não é a primeira vez que apresento picos de exaustão... também não é a primeira vez que me observo ser engolida e consumida por mim mesma... diariamente me afogando na minha própria imensidão e confusão premeditada. Diariamente tentando não ser devorada pela fera que sou eu mesma.

Desde muito nova lidei com expectativas altíssimas. Sempre me cobrei demais e falhar nunca me pareceu uma opção. Aparentemente, havia uma facilidade no meu funcionamento cerebral. Sempre aprendi muito rápido e por esse motivo não precisava me esforçar tanto para fazer aquilo que a maioria das outras crianças classificava como "difícil". Desta forma, me sobrava tempo e energia para estar sempre buscando coisas novas... e eu nunca me sentia saciada.

Encontrava algo interessante, aprendia tudo o que era possível sobre o assunto, fazia ou produzia o que achava relevante e logo em seguida me preocupava em encontrar outro objeto de desejo. Junto a isso vinham as minhas próprias cobranças. Sempre tirei notas altíssimas, nunca peguei uma recuperação, sempre correspondia às expectativas e nunca decepcionava. Meus pais, por exemplo, aprenderam a nunca esperar menos de mim.

Não sei dizer se condicionei os outros à minha volta ou se fui condicionada, o fato é que errar não fazia parte do meu mundo. Ser "exemplar" e sempre estar em movimento procurando novos objetos de interesse era o meu normal. Com isso os meus sonhos e desejos foram tornando-se gigantescos e muitas vezes julgados como "fora do normal". Nunca me contentei com aquilo que era imposto, tudo me parecia pouco e eu sentia uma fome e sede de vida insaciáveis.

Não demorou muito para que eu buscasse novos ares na arte, nos estudos e em tudo aquilo que fosse capaz de me fazer sentir viva e relevante. Viver uma vida insignificante sempre me aterrorizou. Atriz e escritora desde que me conheço por gente, psicóloga e cientista quase que por acidente...

Formação em dois cursos técnicos, duas graduações, três pós-graduações, livros e artigos científicos publicados, uma menção honrosa em um concurso literário, terapia "em dia", treinos diários na academia, trabalhos espirituais semanais, projetos novos a cada semana e ainda assim, dependendo do dia, me sinto sem vida... parada, estagnada, frustrada... correndo o risco de em manhãs funestas me julgar sem valia.

A verdade é que tenho chegado à conclusão de que essa ideia de ser forte e incrível o tempo inteiro ainda vai nos matar. A Super-mulher que tanto buscamos e nos esforçamos para ser vai nos matar. Em algum momento (e me parece que não muito distante) ela vai acabar com a gente... vai sugar completamente a nossa energia.

Em qual momento entendemos que precisávamos ser "perfeitas"? Em qual momento compramos e assumimos essa ideia de "perfeição" que tanto nos atormenta? Em qual momento nos conformamos em tornar cada vez mais escassos nossos momentos de sossego? O que exatamente estamos buscando e não conseguimos parar de buscar? O que pretendemos nos tornar? Estamos mesmo dispostas a nos tornar máquinas desalmadas?

Quem estamos tentando enganar? Continuamos sendo humanas, continuamos tendo necessidades e continuamos sendo falhas. Talvez estejamos falhando miseravelmente com nós mesmas. É impossível dar conta de tudo...

Quanto de vida estamos dispostas a abrir mão em nome dessa tal "perfeição"?

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Texto e Arte: BRUNA FERRAROLI

 
 
 

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