CATARSE
- ferrarolimuniz
- 12 de set.
- 2 min de leitura
Desde quando eu me tornei um assinante do clube da aceitação? Será que eu nunca tive um sonho? Nunca almejei algo que faça eu me sentir realizado, vivo, feliz?
Não! Nem sempre foi assim, já tive sonhos e expectativas, já idealizei um futuro onde eu sou o protagonista, já quis ser astronauta, lixeiro, arquiteto, corredor, nutricionista, jogador de basquete, fotógrafo, e tantas e tantas outras profissões que não consigo elencar sem que pareça um catálogo de profissões baseadas no meu signo.
Até um determinado momento da minha vida eu transpirava sonhos, possuía a certeza de que eu seria uma figura histórica, marcado pela eternidade no muro dos “a frente do seu tempo”, ou popularmente conhecidos como loucos, caso vocês vivessem na mesma época. Mas então tudo foi perdido, tudo ruiu perante a pressão por trabalhar, por ser alguém na vida, por ajudar nas contas de casa, por cumprir os sonhos que meus pais não puderam realizar por conta da minha existência, por pagar pela minha existência que eu não desejei ter. Pronto, estou negando minha existência, pegue isso e adicione:
01 xícara de pressão para casar e constituir uma família que não desejei, afinal, eu não posso envelhecer sozinho e dar trabalho para os meus familiares;
04 colheres de sopa de traumas familiares resultantes do mesmo ciclo, só que na vez dos meus pais;
01 pitada de xingament…quero dizer, frases motivacionais provenientes dos meus chefes, como “se eu soubesse que você é tão burro, eu contratava um cachorro e deixava no seu lugar, seu animal”, ou “como assim ontem você só fez 2 horas além do seu expediente sendo que estamos cheios de coisa para fazer? O seu salário já está na conta, né?”.
Bata tudo e pronto, você tem um adulto frustrado, ou melhor, um adulto tradicional brasileiro, mas cheio de valores e bons costumes.
Perante tudo isso, eu decidi mudar. Poderia dizer que obtive uma iluminação, que vi uma palestra motivacional e repensei a minha vida. Mas não, eu mudei após um quadro grave de depressão, onde sentia que existia um vazio no meu âmago, um vazio que doía, que me fazia questionar a minha vontade de viver, um vazio solitário. Não solitário de pessoas, mas solitário da minha própria essência.
Em meio a dor e a desistência, eu decidi mudar como uma última aposta, buscando preencher essa lacuna na minha barriga, e assim, sendo promovido a louco e fazer o que eu gosto, falar o que penso, ser quem eu quero ser. Dedos foram e serão apontados em minha direção, afinal, viver é doloroso para quem somente sobrevive. Mas a dor de somente existir é incomparável.

Texto e fotografia: FELIPE MUNIZ @muniz_photo
